domingo, 21 de junho de 2015

Peter Pan: Do You Believe in Fairies?

Peter Pan: Do you believe in fairies? 
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História: Peter Breaks Through

A história conhecida como Peter Pan é a adaptação em livro de uma peça escrita por J. M. Barrie, que foi encenada pela primeira vez em 27 de dezembro de 1904, tendo o livro sido lançado em 1911. O título original era Peter Pan or The Boy Who Wouldn’t Grow Up (“Peter Pan ou O Garoto Que Não Cresceria”, em tradução livre) ou ainda, lançado posteriormente, Peter and Wendy (“Peter e Wendy”). Fez enorme sucesso de bilheteria à época, apesar de críticas à temática fantástica escolhida por Barrie.


O livro conta a história de uma menina, Wendy Darling, a qual se engaja em aventuras interessantíssimas na Terra do Nunca na companhia de seus irmãos, John e Michael Darling. Quem os leva para lá é ninguém mais, ninguém menos do que o personagem que dá título ao livro: Peter Pan.


Em uma noite fria de Londres, os pais dos irmãos Darling, George e Mary, saem para um evento social do trabalho do Mr. Darling (Sr. Darling), deixando os filhos sob os cuidados atentos de Nana, a babá das crianças. É importante lembrarmos que Nana é um cachorro, da raça São-Bernardo, conhecida por ser uma raça de cachorros cuidadosos, pois se envolviam no resgate de expedicionários perdidos na neve, por isso, cuidava bem das crianças. Há uma briga antes da saída do casal Darling, por causa do cachorro. George acreditava ser um ultraje a babá de seus filhos não ser humana, porém a falta de dinheiro da família não lhes permitia tal luxo, mas eles vão mesmo assim ao evento. Essa problemática da tensão entre os pais será um dos motivos que influenciarão as crianças a saírem em suas aventuras.


Durante essa noite, Peter Pan entra na casa da família Darling em busca de sua sombra. Peter havia perdido sua sombra quando, noutra noite, entrara na mesma casa, mas foi percebido por Nana, a babá-cachorro. Ela, então, persegue Peter, que tenta fugir pela janela, mas sua sombra fica presa quando Nana fecha a janela para contê-lo. Ao recuperar sua sombra, acorda Wendy, que o ajuda, costurando a sombra de volta em seus pés. Peter convida-a para ir com ele para sua morada, a Terra do Nunca. Wendy decide ir, com a condição de levar seus irmãos.


A Terra do Nunca é descrita como a mente de uma criança. É uma ilha cheia de alegrias e fantasias. Há piratas, índios, sereias, fadas e meninos perdidos, que são meninos que se perderam de suas famílias no parque de Kensington, e são os companheiros de Peter na Terra do Nunca. O plano de Peter era fazer de Wendy sua mãe, e também dos meninos perdidos. As personagens da ilha são saídas da imaginação típica das crianças do século XIX, influenciadas por uma vasta literatura de aventuras, como As Viagens de Gulliver (Jonathan Swift), Robinson Crusoe (Daniel Defoe) e A Ilha do Tesouro (Robert Louis Stevenson). Muitas aventuras envolvem as crianças, principalmente contra o principal antagonista do livro e arqui-inimigo de Pan: Capitão James Hook (James Gancho), um pirata cruel que navega com seu navio Jolly Rogers e sua tripulação de piratas pelas águas que envolvem a Terra do Nunca.


Ao final das aventuras, Wendy e seus irmãos sentem saudades de casa e decidem retornar a Londres, encontrando seus pais preocupados com seu desaparecimento. Os irmãos Darling percebem que queriam ter voltado antes, mas teriam perdido tantas experiências emocionantes na Terra do Nunca. Voltam trazendo os meninos perdidos, que são adotados pela família Darling, que deixa de lado seus problemas financeiros para reencontrarem o amor em sua família.


Ainda há um epílogo da obra, em que vemos Wendy, agora adulta, com sua filha, Jane, para quem conta as histórias sobre Peter Pan. Então, uma noite acontece uma “tragédia”. Peter volta para buscar Wendy, sem se dar conta de que ela havia crescido e se tornado adulta. Mas Jane, sua filha, vai com ele para a Terra do Nunca, e então o narrador nos conta que esse processo vai ocorrer para sempre, com Peter sempre voltando em busca de uma menina para ser sua mãe e isso continuará “enquanto as crianças forem alegres e inocentes e desalmadas” (BARRIE, 1995: 185, em tradução livre).



Autor: The Shadow


James Matthew Barrie (1860-1937) foi um escritor escocês de sucesso em sua época, conhecido fundamentalmente por ter escrito Peter Pan. Estudou na Universidade de Edimburgo e depois seguiu carreira como jornalista e escritor. Mudou-se para Londres para se concentrar mais em sua escrita e publicou uma série de romances, que ficaram menos conhecidos, mas na época ficaram famosos (BARRIE, 1995: 1).


A vida pessoal de Barrie é tema até hoje de polêmicas. Casou-se com uma atriz, Mary Ansell, mas veio a se separar dela em 1909. Ficou bastante próximo da família de seu amigo Arthur Llewelyn Davies e sua mulher, Sylvia, adotando, posteriormente, seus cinco filhos, por causa da morte prematura do casal.


A aproximação com a família Llewelyn Davies fez com que Barrie criasse um vínculo com as crianças, para quem contava histórias. Essas, posteriormente, tornaram-se parte da peça e do livro Peter Pan. Algumas personagens foram inspiradas nos integrantes da família, como o filho do meio, Peter, com o nome do protagonista; o mais velho, George, com o nome do Mr. Darling; o segundo mais velho, John, com o nome de um dos irmãos, e os mais novos, Michael e Nicholas, dando nome ao irmão mais novo. Além disso, significativamente, o autor dá seu próprio nome ao inimigo de Peter, James Gancho.





Adaptação animação: The Island Come True



A animação da Disney baseada em Peter Pan estreou nos cinemas estadunidenses em 1953. O filme conta a história do livro, focando em algumas aventuras pontuais do enredo. Teve problemas para ser produzido, porque vinha sendo pensado desde os anos 1930, mas a eclosão da Segunda Guerra Mundial, com os ataques a Pearl Harbor, adiou os planos dos Estúdios Disney, que se dedicaram a produzir propaganda para a guerra.


Durante o processo de criação do roteiro, várias mudanças em relação à peça e ao livro foram pensadas, mas, ao final, poucas alterações foram levadas a cabo, apenas algumas partes foram suprimidas, mas nada novo foi acrescentado. Há, contudo, na animação, o acréscimo de músicas acompanhando a história, como é consagrado em filmes da Disney. Elas ajudam o desenrolar do enredo, trazendo informações sobre as ações que estão acontecendo, de forma a facilitar a compreensão das crianças espectadoras e prender a atenção delas.


O filme foi muito bem recebido pelo público e pela crítica, tendo recebido nomeações para o Instituto Americano de Filmes (100 anos... 100 heróis e vilões – Peter Pan; Maiores Musicais; e 10 Top 10). No entanto, isso não eximiu a animação de receber críticas, das quais uma importante foi a representação dos nativos americanos na obra, exaltada principalmente na música “What makes the redman red?” (em uma tradução livre, “O que faz o índio ser vermelho?”). Podemos observar assim o racismo presente na música: tanto pela questão da cor dos nativos americanos, quanto pelo próprio uso do termo “redman”, o qual é uma forma pejorativa de denominá-los. 

Na tradução brasileira, o estereótipo de raça continua, porém não se foca tanto na questão da cor de pele, mas sim no aspecto cultural. Percebemos isso com o próprio título, “Por que o índio diz au?”.



Comparação das obras: “Hook or Me This Time”


Apesar de a animação ser baseada no livro de Barrie, há várias questões que marcam a transposição de uma obra para outra, resultando por vezes em dessemelhanças. Uma diferença fundamental é o foco de cada. Enquanto o livro se detém principalmente na discussão sobre o crescimento e amadurecimento das crianças, a versão de Walt Disney prefere se voltar às aventuras em si, vividas na Terra do Nunca. Podemos observar isso na própria sinopse do filme, a qual se descreve como uma “fascinante história que nos ensina a importância de acreditar nos próprios sonhos”, opondo-se à mensagem subjacente à obra de Barrie, a qual aponta também para os benefícios de abandonar os próprios sonhos de criança (CANI, 2008).


Essa simplificação (e, talvez, inversão) da mensagem da obra pode trazer em si problemas. A recepção do filme por muitas crianças espalha a mensagem de que o legal é não crescer; Pan é o herói da animação, indiscutivelmente. Suas ações não são criticadas, como no livro, e, por isso, suas posições podem ser tomadas como positivas e modelares para os jovens espectadores. O livro (assim como a peça), ao contrário, se propõe a apresentar um mundo de imaginação, que é compartilhado pelas crianças e faz parte da experiência da infância, aliando isso a uma orientação (simbólica) visando ao amadurecimento delas. Essa boa visão do amadurecimento tem seu fechamento circular no final do livro, com a constatação da ciclicidade da infância e do crescimento na vida de todas as pessoas por meio da família Darling e as apresentadas sucessões das filhas, das filhas...
As you look at Wendy you may see her hair becoming white, and her figure little again, for all this happened long ago. Jane is now a common grown-up, with a daughter called Margareth; and every spring-cleaning time, except when he forgets, Peter comes for Margareth and takes her to the Neverland, where she tells him stories about himself, to which he listens eagerly. When Margareth grows up she will have a daughter, who is to be Peter’s mother in turn; and thus it will go on. [BARRIE, 1995: 185]

Uma sutil característica de Peter é sua idade. Em alguns momentos do livro, fica expresso que ainda tem “his first teeth” (“seus dentes de leite”, em tradução livre), indicando ter por volta de seis anos. Na animação, contudo, a idade aparente de Peter é maior, podendo ser estimada em doze anos, em sua pré-adolescência. Nesse sentido, é mais pertinente o desejo de não crescer de uma criança de seis anos do que de um pré-adolescente de doze, fazendo com que a obra de Barrie seja mais adequada para guiar esse amadurecimento infantil.



Outra questão interessante de se notar é a figura do pai, George Darling, nas diferentes versões de Peter Pan. A tradição da peça de teatro é que o ator que interpreta George é o mesmo que interpreta o Capitão Gancho. No livro, porém, apenas com o suporte verbal, esse vínculo entre os dois personagens não aparece. Na versão animada, contudo, temos uma aproximação e um afastamento da tradição: ao mesmo tempo em que ambas as personagens são dubladas pelo mesmo ator, as figuras desenhadas são díspares (o pai é gordo, com bigode cheio, nariz empinado e tem cabelo curto, enquanto Gancho é magro, com bigode fino, nariz adunco e tem cabelo longo).


Outro ponto interessante de se notar é a omissão do paradeiro dos meninos perdidos na versão da Disney. Como essa versão se foca nas aventuras ocorridas na Terra do Nunca, em vez de tratar sobre o crescimento das crianças, pouco importa a escolha dos meninos perdidos crescerem. Na verdade, é mais adequado eles ficarem na ilha, como parte de um sonho, ou de uma imaginação, do que voltarem à realidade tangível, engajando-se no crescimento, próprio de toda criança – exceto uma, Peter Pan.


Ainda pensando na questão do crescimento, um dos pontos imprescindíveis na obra de Barrie, porém totalmente ignorado por Disney, é a existência de um beijo escondido nos lábios de Wendy. Desde o começo do livro se menciona um beijo, que Wendy oferece para Peter. Ele, porém, não entende o que isso significa, acreditando que se trata de um objeto. No final da história, ao fim da batalha contra os piratas, Wendy beija-o. E Peter fica tão feliz que recupera suas forças e derrota Gancho.


Podemos considerar o beijo como um rito de amadurecimento erótico-afetivo, que é parte do crescimento de uma criança. Assim, é sintomático que, na animação, menos focada no crescimento e mais nas aventuras de criança, esteja ausente essa passagem; o foco no amadurecimento, dado na peça e no livro, é coerente a tal momento.



Conclusão: When Wendy Grew Up



Percebemos, assim, uma oposição nos focos dados na animação de Walt Disney e no livro/ peça de J. M. Barrie. Essa oposição se dá pelo enfoque no crescimento e amadurecimento infantil (livro/ peça), alterado na versão animada para deter-se nas aventuras vividas pelos irmãos Darling na Terra do Nunca.


Essa dissonância fundamental desdobra-se em outras, a saber o objetivo de cada obra (mais de formação ou mais de entretenimento); as diferentes figurações de Peter Pan, em fases distintas do desenvolvimento infantil (criança ou pré-adolescente); a vinculação entre as figuras de Gancho e do pai (fundamental para uma visão de coerência entre o imaginário infantil e a realidade), ausente no livro (por uma questão de suporte), presente na peça, e em partes na animação; o paradeiro final dos meninos perdidos (voltarem para Londres ou permanecerem na Terra do Nunca); e, por fim, o beijo de Wendy, símbolo do desenvolvimento sexual da criança. 



BIBLIOGRAFIA


AMERICAN FILM INSTITUTE. AFI's 100 Years...100 Heroes and Villains. Los Angeles: AFI, 2008.
__________. AFI's Greatest Movie Musicals - Nominated. Los Angeles: AFI, 2000.
__________. AFI's 10 Top 10. Los Angeles: AFI, 2000.
BARRIE, James Matthew. Peter Pan. Londres: Penguin Books, 1995.
CANI, Isabelle. Harry Potter, ou, o anti-Peter Pan: para acabar com a magia da infância. São Paulo: Madras, 2008.
CORSO, Diana Lichtenstein. A psicanálise na Terra do Nunca : ensaios sobre a fantasia. Porto Alegre : Penso, 2011.
PETER PAN. Direção: Clyde Geronimi, Wilfred Jackson e Hamilton Luske. Walt Disney Studios, 1953. 76 min.


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